O que está por trás das ameaças de golpe?

matrioska

Na última vez que passei aqui pelo blog, escrevi a respeito das ameaças de golpe que começaram a pulular logo após a divulgação do resultado das eleições presidenciais deste ano. Continuo acreditando na inviabilidade de um golpe de fato, pelo menos no momento. O cenário político-social, tanto nacional quanto internacional, continua felizmente desfavorável a aventuras anti-democráticas no Brasil.

Em um artigo publicado no portal Brasil Debate, Luís Fernando Vitagliano defende também que, ao contrário do que ocorreu em 1964 (ver aqui), a atual “fragilidade” do governo Obama e o fortalecimento diplomático dos BRICS não contribuiria para o apoio norte-americano a um eventual golpe no Brasil. O que, aliás, apenas reforça o acerto da diplomacia brasileira, que tem optado por valorizar também as relações internacionais com China, Rússia, Índia, além é claro dos nossos vizinhos sul-americanos.

Mas será que a grande mídia também já não sabia disso tudo??? Afinal, quem no Brasil dispõe de mais acesso à informação do que as grandes empresas de comunicação? O que está então por trás das ameaças de golpe? Começo agora a pensar que figuras como Ferreira Gullar, Arnaldo Jabor e Lobão sejam apenas peões, os quais, em troca de holofotes e alguns trocados, foram manipulados no jogo sórdido do sistema financeiro.

Mas que diabos o setor financeiro teria a ver com isso? Simplesmente, tudo! Pois o que está em jogo no momento, ao meu ver, não é mais se Fulana ou Beltrano serão a/o presidenta/e, mas sim quem estará a frente das decisões econômicas no governo Dilma. Levando-se em conta um aspecto já tratado anteriormente neste blog, o da dívida pública, estas decisões (como por exemplo o valor da Taxa Selic) envolvem nada mais nada menos do que metade do Orçamento Brasileiro. Deste modo, o setor financeiro não deve estar disposto a abrir mão da gorda fatia do orçamento que lhe é atribuída anualmente.

A ideia do “golpe”, portanto, poderia ser simplesmente uma tentativa de acuar politicamente a Presidenta reeleita, de modo a força-la a buscar uma sombrinha no guarda-sol da ortodoxia econômica. Ou seja, não tendo paz na cena política, e buscando a tal da governabilidade, Dilma precisaria ceder as pressões do mercado financeiro e colocar, como frequentemente se diz, a raposa para tomar conta do galinheiro

E ao que parece, será exatamente isso que nossa Presidenta irá fazer, caso venha realmente a se concretizar a nomeação de Joaquim Levy para a pasta de Ministro da Fazenda. Levy é doutor em Economia pela Universidade de Chicago (berço de uma das vertentes do neoliberalismo) e já trabalhou no FMI. O setor financeiro, obviamente, aplaude a escolha, bem como o aprofundamento da ortodoxia econômica, que se reflete na composição dos demais quadros: Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (BC).

Mas como sabiamente disse Tom Jobim: “O Brasil não é para principiantes”, e Dilma busca também capitalizar em cima dessa escolha, adiando a decisão para depois da votação do projeto que altera o cálculo do superávit primário

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Solidão, que nada…

E o que dizer da opção por Kátia Abreu (PMDB-TO) e Armando Monteiro Neto (PTB-PE) para os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento, respectivamente? Neste caso, Dilma busca compor uma base aliada, chamando PMDB e PTB para a dança, evitando assim o isolamento político que acabou se mostrando fatal tanto para Getúlio (em 1954) quanto para Jango (em 1964).

Tudo bem, compreendo que a arte da política exija que algumas concessões sejam feitas… Mas nossa Presidenta precisa dar sinais mais claros para seus eleitores que ainda se lembra dos motivos que a fizeram ganhar nas urnas.

Neste sentido, um bom contraponto à escolha de Kátia Abreu, a qual é fortemente identificada com o agronegócio, seria opção por alguém que represente a agricultura familiar para ocupar o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Por que não convidar, por exemplo, alguém ligado ao MST para ocupar esta pasta? (Será que o Stédile toparia?) Penso que esta atitude deixaria bastante claro que, apesar das concessões exigidas pelo cargo, quem governa este país ainda se chama Dilma Vana Rousseff.

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